À poeta que acorda o Amor, por Cândida Moraes
Salvador 09 de julho de 2022
Cara poeta que acorda o Amor,
Estou aqui querendo ter uma goiaba na mão, com a da sua capa, e na outra, uma rapadura, pelas sensações que a sua palavra me ofertou.

Esta poeta que vos escreve te leu em tom de Florbela Espanca, a poeta portuguesa que me ensinou sobre que a dor e o desespero do amor não são só meus e me trouxe de volta também Drummond quando disse que amor é “privilégio de maduros, que o amor só começa tarde.” Eu me vi na forma de ser leveza forte e passeei pelas minhas repentinas paixões, mas também pelos meus longos amores.
Eu sei, você sabe, quando amamos intensamente, é possível que nos alcance um raio dentro que nos atravessa intensamente e nos perpassa inteiras. Por isso, vou te dizer da sua poesia que mais me marca:
Um raio prateado cortou o horizonte
O céu desabou água e a chuva ensurdeceu o firmamento
O raio tinha a forma do seu rosto
A água descia com o suor
E o barulho da chuva tinha a sua voz
Esse amor que você me despertou pelo raio prateado é o amor que tenho por Oyá. O céu que desabou água, diz de Oxum e de Yemanjá, que sendo tanto rio e mar, me fazem ser mulher ancestral. Ainda, como Yabás do sentir, me empoderam de coragem para minha autoria poética. Me entendo e me permito ser escrita feminista.
É pelo amor integrados a energia das ancestrais que eu me refaço sempre de amor, primeiro a mim, como Oxum me ensinou e aprendo a resistir a ansiedade pelos padrões, resisto as desigualdades, as opressões e me reconquisto diariamente, como quem sabe da esperança que o amor permanecerá.
Recito agora, mais uma poesia sua que me encontra, talvez o que sempre quero aprender e me faltou palavras:
Me ensina a amar
Sem para sempre
Sem dor
Um amor de cada vez
E cada amor completo
Sem arrependimento
Sem mágoa
O amor só
Tem como?
Só amor.
Não por acaso, estamos aqui entre poetas negras, e assim reverencio bell hooks em “Vivendo de Amor” quando diz: “quando nós, mulheres negras, experimentamos a força transformadora do amor em nossas vidas, assumimos atitudes capazes de alterar completamente as estruturas sociais existentes. Assim poderemos acumular forças para enfrentar o genocídio que mata diariamente tantos homens, mulheres e crianças negras. O amor cura.”
E desse amor curado ou se curando ao vivermos pelos nossos, pelas nossas, nos nossos aquilombamentos e caminhos que quero deixar aqui o último poema escolhido na minha leitura:
“Eu quero te acordar
Lendo para você um poema que eu não escrevi
Mas me descreveria
Pensei melhor
Tenho que te deixar sentir saudades.”
Obrigada por me lembrar que é importante também deixar o amor nos alcançar pois como disse Guimarães Rosa “o amor é um descanso na loucura.”
Adupé por este livro e que as Yabás te tragam ainda mais amor e sentidos poéticos.
Cândida Moraes
poeta raio.
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