Descrição
Um Batismo para a Verdade do ser
Percorrer as linhas palavras de Batismo à Ordem da Verdade é consagrar-se para o novo. Os versos de João Vanderlei de Moraes Filho conduzem-nos por ruas e rios cheios da vida e da água que se renova, sempre, a partir do lugar onde o humano habita o homem. Tal como o batismo traz consigo a simbologia da renovação, os versos aspergidos sobre nós, neste livro, carregam a renovação dentro uma ordem: a Ordem da Verdade. A verdade do ser. Palavras enxutas, com precisão justa e exata, vão encharcando/ quem passa com pingos de páginas/ inclinadas à escrita em estado de deserto.// Rindo, a descer em estado de deserto…/ feito água escorrida em pedras… (Quando rio em teus olhos – II). É de deserto que precisamos para desvendar o abismo que nos vigia. E de água para limpar o mais e pôr à vista as liberdades que se desenham, olho no olho, frente ao espelho: enquanto/ lava as mãos e a alma/no silêncio da mirada, desce/ pelo ralo da pia a maquiagem/ face à liberdade despida (Quando rio em teus olhos – III). João Vanderlei de Moraes Filho nos batiza no ofício humano de deixar cair as pétalas ressequidas para reviver primaveras, nos consagra ao sagrado: a transformação mística, espiritual, como no poema Santo Graal: o silêncio daquela pedra/ me diz muito mais, eu sou/ muito mais, quando estou/ dentro dela. É pelo sagrado que a travessia se cumpre – centrado na luz –; a religação se estabelece a partir do canto concêntrico do vazio de si mesmo (Religare). A força proveniente da religiosidade de matriz africana costura os versos através das divindades evocadas ao longo do livro e do poema homenagem a Gayaku Regina de Avimaje e à sua maestria de sacerdotisa que lê os caminhos e cuida da cabeça de cada filho seu. Em Cartas das ausências, o livro assume outro tom, mesmo mantendo o matiz intimista, com as missivas de Yjlaf Brack a um amor que partiu. Poemas em prosa? Prosa poética? As 12 cartas registram o desfazer-se da ausência no silêncio de cada dia, a cada folha transpassada de palavras e falta. Em Batismo à Ordem da Verdade o poeta, honrando a casa berço, constrói sonhos de homem feito, e, na distância/ inquieta entre o eu e o ele (Gerúndio) faz vibrar a origem a partir da Ordem da Verdade: o encontro consigo mesmo, ao olhar para trás e seguir adiante, tal como o Sankofa. Este Batismo nos convida à verdade de ser quem se é.
Lílian Almeida
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